Post by Senslyn on May 28, 2005 2:11:14 GMT
III
- “Tudo o que me estás a dizer agora leva-me cada vez mais para um abismo. E acredita, estou prestes a cair no mais fundo deles. Não posso… Não consigo. Preciso de um pequeno espaço para respirar, porque estou muito próxima de terminar isto de uma vez por todas, a mal. Não a bem… As respostas que eu procuro não são claras. Só desejava encontrar uma maneira de desaparecer de vez. Estes pensamentos não fazem senso nenhum. Oh como eu acho a ignorância uma bênção… Nada parece desaparecer, são cada vez mais as memórias do passado, sem rasto, sem lógica… Já tenho medo de fechar os olhos à noite, porque sei que vou sonhar c ele… Que vou sonhar com tudo aquilo de novo. Não aguento, simplesmente não aguento. Eu quero desistir.”
- “Não desistas…”
Senslyn acordou sobressaltada. De novo. Já se tinha tornado um hábito isso acontecer, mas cada vez ia ficando mais claro. O seu passado, aquele que alguém fez de tudo para afastar de Senslyn, estava a voltar. Aos poucos e dolorosamente, mas estava de facto a voltar.
Tentou respirar devagar, não queria acordar os restantes.
- “Há feridas que são difíceis de sarar.” – sussurrou Lince tão pausadamente que fez Senslyn sentir-se automaticamente mais calma.
- “Desculpa, não era a minha intenção acordar-te.”<br>- “Não me acordaste. Já há muito tempo que eu não consigo dormir bem. Dizem que coração ferido não dá lugar a descanso. Penso que isso me acenta bem.”<br>Lince parecia predisposto a conversar.
Precisava de ouvi-lo, talvez ele dissesse no meio das suas confissões, algo sobre Sagramor. Por isso decidiu afastar-se de Pinhas, levantou-se e foi ao encontro de Lince, que se encontrava encostado a uma grande árvore.
Este parecia não estar presente, a sua mente parecia percorrer outros sítios sem ser aquele. Ele fixava a lua. Estava Lua Cheia. Em tempos, também ela se perdia a olhar para a Lua, agora já não o fazia. Alias, recusava-se.
- “Também tens pesadelos?” – perguntou Senslyn.
- “Sensy… (um calafrio instantâneo…) eu já não tenho pesadelos. Vivo num. Constantemente, sem pausas, sem piedades. É só isto que fica, quando alguém que nos é querido nos é tirado. Decerto que também percebes.”<br>- “Percebo sim. Perdi muitas pessoas queridas nos últimos dois anos, não foi só uma.”<br>- “Surfzinha…”
- “Como?” – disse Senslyn meio confusa.
- “Perdi-a. A mulher que eu amava. Por pura presunção, por crer ser alguém que não sou. Por simplesmente seguir realidades que não era minhas, mas que por juramento lhes era leal. Enfim…”
- “Sinto muito.” – e Senslyn sentia de facto. Uma tristeza avassaladora, tomou conta dela, mais memórias pareciam ameaçar vir à tona.
- “Não sintas. Só tive o que mereci.”<br>- “Lince, não deve ser bem assim. O que originou isso tudo?” – disse, tentando disfarçar a embriagues da sua voz.
- “Sabes, é complicado. Como te disse, faço parte de um clan. Um clan que outrora seguia valores verdadeiros e honrados. Mas quando fizemos aliança com um outro clan, fomos enganados. Toda a nossa honra ficou manchada. Alias, nem sei se ainda existimos como clan, para te ser honesto. Muitos se separaram, quando houve um grande evento, esse maldito evento que custou a vida a tantos inocentes. É exactamente essa a minha busca. Quero encontrar o clan, ou que resta dele. Quero também encontrar os que foram feitos prisioneiros. E aqueles que simplesmente andam por ai perdidos, sem sentido ou em algo em que possam acreditar novamente.”<br>- “Então à quanto tempo é que não os vês?”<br>- “Já perdi a conta, mas penso que há um par de anos.”<br>Sim, as hipóteses eram cada vez mais plausíveis. Ele também lá tivera, de certeza. Ela quis sentir raiva, mas por alguma razão não o conseguiu.
- “Foi assim que perdeste a Surfzinha? Ela foi uma das pessoas inocentes que morreram?”<br>- “Não. Ela foi a única pessoa que nos avisou da catástrofe que se estava a aproximar. Ela era uma dark elfa, tinha o poder da visão, mas eu recusei-me a acreditar nela. Que sabia ela? Era uma dark elfa que fora banida pelos da sua própria raça, guiava-se na vida pela rebeldia e não oferecia vassalagem a nenhum líder. E eu estúpido e toldado pela minha ganância e lealdade, não lhe dei ouvidos. E a verdade é que também nunca mais a vi, a não ser na noite anterior ao evento, quando ela veio ter comigo, pondo a sua própria vida em risco para me avisar a mim e aos meus.”<br>- “Que evento foi esse?” – tinha de perguntar. Precisava de saber.
- “Foi …”
- “Então não dormem?” – foram bruscamente interrompidos por Pinhas, que acordara. Senslyn teve vontade de o esganar. Sentiu-se tão perto da verdade.
- “Descansa tu Pinhas, não te preocupes connosco. Estamos bem.” – entrepôs Lince prevendo a reacção pouco amistosa de Senslyn. – “Vai descansar Senslyn. Daqui a pouco eu acordo-vos para começarmos de novo a caminhada. A sério, está tudo bem.”<br>Senslyn percebeu então que Lince queria ficar sozinho. Ressuscitar fantasmas do nosso passado é sempre algo muito penoso. Ela percebia isso. Caminhou então até junto de Pinhas e deitou-se sobre a relva.
Estava longe o suficiente para deixar Lince sozinho com os seus pensamentos, mas perto o suficiente para ver uma lágrima descer por aquele rosto marcado por uma angústia permanente.
Deu por si a sentir uma inesperada simpatia por aquele humano, e ela não sabia como reagir a esse sentimento. Fechou os olhos e tentou esquecer. Talvez com sorte torna-se a adormecer. Talvez com sorte não sonhasse desta vez.
(Surf: nina, vais primar pela rebeldia... ;D)
- “Tudo o que me estás a dizer agora leva-me cada vez mais para um abismo. E acredita, estou prestes a cair no mais fundo deles. Não posso… Não consigo. Preciso de um pequeno espaço para respirar, porque estou muito próxima de terminar isto de uma vez por todas, a mal. Não a bem… As respostas que eu procuro não são claras. Só desejava encontrar uma maneira de desaparecer de vez. Estes pensamentos não fazem senso nenhum. Oh como eu acho a ignorância uma bênção… Nada parece desaparecer, são cada vez mais as memórias do passado, sem rasto, sem lógica… Já tenho medo de fechar os olhos à noite, porque sei que vou sonhar c ele… Que vou sonhar com tudo aquilo de novo. Não aguento, simplesmente não aguento. Eu quero desistir.”
- “Não desistas…”
Senslyn acordou sobressaltada. De novo. Já se tinha tornado um hábito isso acontecer, mas cada vez ia ficando mais claro. O seu passado, aquele que alguém fez de tudo para afastar de Senslyn, estava a voltar. Aos poucos e dolorosamente, mas estava de facto a voltar.
Tentou respirar devagar, não queria acordar os restantes.
- “Há feridas que são difíceis de sarar.” – sussurrou Lince tão pausadamente que fez Senslyn sentir-se automaticamente mais calma.
- “Desculpa, não era a minha intenção acordar-te.”<br>- “Não me acordaste. Já há muito tempo que eu não consigo dormir bem. Dizem que coração ferido não dá lugar a descanso. Penso que isso me acenta bem.”<br>Lince parecia predisposto a conversar.
Precisava de ouvi-lo, talvez ele dissesse no meio das suas confissões, algo sobre Sagramor. Por isso decidiu afastar-se de Pinhas, levantou-se e foi ao encontro de Lince, que se encontrava encostado a uma grande árvore.
Este parecia não estar presente, a sua mente parecia percorrer outros sítios sem ser aquele. Ele fixava a lua. Estava Lua Cheia. Em tempos, também ela se perdia a olhar para a Lua, agora já não o fazia. Alias, recusava-se.
- “Também tens pesadelos?” – perguntou Senslyn.
- “Sensy… (um calafrio instantâneo…) eu já não tenho pesadelos. Vivo num. Constantemente, sem pausas, sem piedades. É só isto que fica, quando alguém que nos é querido nos é tirado. Decerto que também percebes.”<br>- “Percebo sim. Perdi muitas pessoas queridas nos últimos dois anos, não foi só uma.”<br>- “Surfzinha…”
- “Como?” – disse Senslyn meio confusa.
- “Perdi-a. A mulher que eu amava. Por pura presunção, por crer ser alguém que não sou. Por simplesmente seguir realidades que não era minhas, mas que por juramento lhes era leal. Enfim…”
- “Sinto muito.” – e Senslyn sentia de facto. Uma tristeza avassaladora, tomou conta dela, mais memórias pareciam ameaçar vir à tona.
- “Não sintas. Só tive o que mereci.”<br>- “Lince, não deve ser bem assim. O que originou isso tudo?” – disse, tentando disfarçar a embriagues da sua voz.
- “Sabes, é complicado. Como te disse, faço parte de um clan. Um clan que outrora seguia valores verdadeiros e honrados. Mas quando fizemos aliança com um outro clan, fomos enganados. Toda a nossa honra ficou manchada. Alias, nem sei se ainda existimos como clan, para te ser honesto. Muitos se separaram, quando houve um grande evento, esse maldito evento que custou a vida a tantos inocentes. É exactamente essa a minha busca. Quero encontrar o clan, ou que resta dele. Quero também encontrar os que foram feitos prisioneiros. E aqueles que simplesmente andam por ai perdidos, sem sentido ou em algo em que possam acreditar novamente.”<br>- “Então à quanto tempo é que não os vês?”<br>- “Já perdi a conta, mas penso que há um par de anos.”<br>Sim, as hipóteses eram cada vez mais plausíveis. Ele também lá tivera, de certeza. Ela quis sentir raiva, mas por alguma razão não o conseguiu.
- “Foi assim que perdeste a Surfzinha? Ela foi uma das pessoas inocentes que morreram?”<br>- “Não. Ela foi a única pessoa que nos avisou da catástrofe que se estava a aproximar. Ela era uma dark elfa, tinha o poder da visão, mas eu recusei-me a acreditar nela. Que sabia ela? Era uma dark elfa que fora banida pelos da sua própria raça, guiava-se na vida pela rebeldia e não oferecia vassalagem a nenhum líder. E eu estúpido e toldado pela minha ganância e lealdade, não lhe dei ouvidos. E a verdade é que também nunca mais a vi, a não ser na noite anterior ao evento, quando ela veio ter comigo, pondo a sua própria vida em risco para me avisar a mim e aos meus.”<br>- “Que evento foi esse?” – tinha de perguntar. Precisava de saber.
- “Foi …”
- “Então não dormem?” – foram bruscamente interrompidos por Pinhas, que acordara. Senslyn teve vontade de o esganar. Sentiu-se tão perto da verdade.
- “Descansa tu Pinhas, não te preocupes connosco. Estamos bem.” – entrepôs Lince prevendo a reacção pouco amistosa de Senslyn. – “Vai descansar Senslyn. Daqui a pouco eu acordo-vos para começarmos de novo a caminhada. A sério, está tudo bem.”<br>Senslyn percebeu então que Lince queria ficar sozinho. Ressuscitar fantasmas do nosso passado é sempre algo muito penoso. Ela percebia isso. Caminhou então até junto de Pinhas e deitou-se sobre a relva.
Estava longe o suficiente para deixar Lince sozinho com os seus pensamentos, mas perto o suficiente para ver uma lágrima descer por aquele rosto marcado por uma angústia permanente.
Deu por si a sentir uma inesperada simpatia por aquele humano, e ela não sabia como reagir a esse sentimento. Fechou os olhos e tentou esquecer. Talvez com sorte torna-se a adormecer. Talvez com sorte não sonhasse desta vez.
(Surf: nina, vais primar pela rebeldia... ;D)