Post by Senslyn on Jun 14, 2005 18:31:28 GMT
II
O dia amanheceu com uma chuva miudinha. E o céu não podia estar mais negro, ameaçado uma tempestade enorme.
Para Orelhas, isso era um mau pressagio.
Olhou para as restantes tendas. Os seus companheiros ainda se encontravam a dormir.
Ele não conseguira estar muito tempo deitado. O sono parecia não querer nada com ele. Mas isso era algo a que os dark elfos já estavam habituados a lidar.
Por isso, chateado de olhar para nenhures, levantou-se e caminho até ao precipício, que rodeava o acampamento pelo lado norte.
Sentou-se mesmo à beira dele.
Lá em baixo, passava um riacho.
- “Seria uma queda algo aparatosa…” – disse Sagramor, que tinha chegado naquela altura.
Orelhas pressentiu-o, mas não deixou de se assustar.
- “Aonde tiveste?” – questionou Orelhas.
- “Assuntos pendentes.” – sorriu Sagramor.
- “E conseguiste resolve-los?” – disse Orelhas.
- “Acho que ainda os compliquei mais.” – disse Sagramor.
- “O amor. Nunca me foi dado a honra de conhecer esse lado.” – disse Orelhas.
Sagramor permaneceu calado. Ninguém sabia dos seus encontros com Senslyn.
Devia ter falhado em alguma coisa, pois Orelhas tinha de facto descoberto algo.
- “Não te preocupes, Sagramor. Não tenho problemas nenhuns com isso. Fico contente por ti. E está descansado. Se quisesse contar, já o tinha feito há muito tempo, por isso não é agora que o vou fazer.”
- “Não é uma questão de ser segredo. É apenas complicado.”
- “Então, o que é complicado, complicado deve permanecer.” – disse Orelhas sorrindo.
Sagramor sentou-se então ao seu lado. Nimue deitou-se a seu lado.
Orelhas olhou de relance para ela.
Parecia distante. Alias, Sagramor não parecia absorvido por ela, o que ultimamente se tinha tornado numa constante. Pareciam falar por pensamentos.
Orelhas quase que diria que estavam chateados.
Mas como a relação de um animal nunca é tão envolvente com o dono, ele simplesmente descartou essa hipótese. Não acreditava que a pantera de Sagramor conseguisse evoluir o poder de Mentalis. Era um poder deveras poderoso, e nem Sagramor o dominava. Ele próprio tentar uma vez dominar essa força, mas tudo o que conseguiu foi uns belos de uns arranhões como recordação, quando tentou aprender aquela técnica, usando como cobaia, um gatito igual à Nimue. Nunca mais voltou a tentar.
- “Ninguém mais está a pé?” – perguntou Sagramor.
- “Aparentemente ainda estão todos a dormir. Também ainda não amanheceu direito, e o ambiente ontem à noite também não deve ter propulsionado bons sonhos. Eu pelo menos falo por mim.”
Depois o silêncio toldou aqueles dois companheiros.
Por momentos, limitaram-se somente a observar o sol que aparecia agora a recortar o horizonte.
- “Ora já estão a pé” – Koresma também tinha despertado do seu sono embriagado e estava agora a espantar Nimue, para se sentar pesadamente ao lado de Sagramor. – “Vá bichano!!! Vai regar algumas plantas ou comer alguma erva!! Xo xo!”
Nimue simplesmente não ligando muito aos comentários de Koresma, limitou-se a levantar-se e a sentar-se mesmo à frente de Koresma, procedendo de seguida as umas lambidelas no seu pêlo brilhante.
Sagramor sorriu. Ninguém conseguia ser mais oportuno que Nimue. Olhou de soslaio para Koresma, que não dissera nada, mas podia ver um ponto de irritação no seu sobrolho franzido.
- “Que dia mais patético…!” – disse Orelhas.
- “Dá vontade de beber qualquer coisa…” – disse Koresma, esfregando a sua grande barriga..
- “Eu acho que acenta bem no cenário que está para acontecer.” – disse Sagramor, suspirando.
- “Já vi muitas guerras, Sagramor. Mas em todas, nunca vi um clan tão dividido em espírito como este. Todos achamos que a aliança seria benéfica, agora o que temos de fazer para a ter, é que me parece um pouco despropositado.” – disse Koresma.
- “StoryTeller é um gajo manhoso. Que dita as suas próprias regras e é só esse facto que me aborrece. Eles não têm nem um terço da união e dos princípios que o nosso clan se rege. E o facto de estarem tão interessados em terem-nos como aliados, isso é que é deveras suspeitoso.” – disse Sagramor.
- “De qualquer maneira, estamos a falar do nosso clan! Nós nunca viramos costas a nada, não é agora que o vamos fazer. E eu sei que tudo isto é deveras importante para o Nurun. Confio que ele tenha ponderado bem no assunto. Afinal ele é elfo, e os elfos têm o costume de repensar bem no assunto antes de se decidirem…” – disse Orelhas.
Os três desmancharam-se a rir, não reparando que muitos dos seus companheiros, já começavam a sair das tendas.
- “Oh Gordo!!! Anda cá!!!” – Noxx gritou.
- “Se for lá, parto-te a dentuça!!!” – gritou também Koresma. - “Estes putos ranhosos armados em heróis… Mas pensam que eu tenho cara de ama-seca ou quê” – disse praguejando. Mas lá se levantou, e caminhou até ao Noxx, que parecia agitar uma caneca de algum líquido, que deve ter soado bastante promissor a Koresma, pois depressa se apressou...
Orelhas levantou-se também, dizendo:
- “Bem, Sagramor. Vou-me retirar, para tentar encontrar alguma concentração. Enfim, arranjar algo para me entreter antes morra de tédio!!” – disse Orelhas.
Sagramor ficara então sozinho, apenas a sua pantera permanecia com ele. Felizmente que já tinha acabado com as lambidelas no pêlo.
No seu pensamento, apenas uma pessoa se encontrava.
E como sentia a sua falta já.
Sabia que tinha acabado de estar com ela, à somente algumas horas, mas daquela vez, o ambiente entre eles não tinha sido o melhor. Talvez tivesse nervoso por causa do que ia acontecer naquela manhã.
Não sabia. Somente sabia, que já sentia saudades dela.
- “Sagramor!” – ouviu gritar pelo seu nome.
- “Vamos lá, Nimue.” – disse levantando-se e indo ao encontro dos restantes companheiros.
Enquanto caminhava, apercebeu-se da agitação que rodeava aquele acampamento.
Muitos limpavam as armas, outros tentavam ensinar golpes maravilhas uns aos outros, mas uma coisa que predominava era o companheirismo.
Todos sabiam o que se avizinhava, mas por momentos, pareciam ter esquecido.
- “Ah!!! A boa pinga!!! Não há nada que levante o espírito a um velho dwarf a não ser a sua pinga!!!” – disse Koresma.
- “Sim, contigo acredito que nada mais funcione a não ser mesmo a pinga!!!” – disse Noxx, desmanchando-se em seguida às gargalhadas.
E num abrir e fechar de olhos, Koresma arremessou a sua caneca à cabeça de Noxx, acertando-lhe mesmo em cheio.
- “Au!!! Isso doeu!!!” – disse Noxx esfregando com a mão, a zona dorida.
- “Parece-me a mim que a minha pontaria ainda está deveras afinada!!! Agora mexe as pernas e vai-me buscar mais uma caneca!” – disse Koresma
- “Sagramor, talvez nem tudo corra mal.” – disse Orelhas, vendo Sagramor aproximar-se.
- “E porque é que haveria de acontecer algo de mal? Estamos todos aqui, a lutar pelo mesmo objectivo.”
OldMan apareceu meio cabisbaixo, com o sobrolho franzido. Devagar sentou-se junto a Skirft.
- “Então, companheiro. Como é que vai isso? Estás com dores ainda?” – perguntou-lhe Skrift a vê-lo tão em baixo.
OldMan anuiu com um ligeiro movimento de cabeça.
Ele era um dwarf já de idade avançada.
Era também mudo, a sua garganta tinha sido rasgada, num encontro menos amigo com uma Harpy, um monstro em que as suas garras podiam ser mortais.
OldMan quase que perdera a vida. Perdera tanto sangue, que quando Koresma e os restantes o encontraram, acreditaram que ele já tinha perecido. Mas Koresma, na sua teimosia, e com os seus mágicos unguentos, até um morto ressuscitava, por isso decidiu salva-lo.
Na verdade, OldMan teve vários dias agarrado à vida por um fio.
Koresma teve noites a fio a fazer receitas novas, com ervas que ninguém nunca tinha ouvido falar, inclusive NiceOne tinha sido incumbido uma vez a ir até Blazing Swamp, buscar uma porção da agua gasosa que os buracos nas rochas vulcânicas acumulavam com o calor da lava.
Todos achavam estranhas aquelas mistelas, mas ninguém se fazia rogado a tomar uma se tivesse mal. Koresma sabia o que fazia.
Quando OldMan voltou à vida, Koresma apercebeu-se que ele nunca mais iria voltar a falar. As suas cordas vocais tinham ficado desfeitas naquele ataque. Já era um milagre ele ter sobrevivido. Mas OldMan não pareceu preocupado, apenas ficou agradecido por ele o ter salvo.
Depois daquele incidente, ele ofereceu os seus serviços ao clan. Já estava velho e não se importava de seguir o clan para onde ele fosse. Eles tinham-lhe salvo a vida e ele por gratidão decidira seguir os seus passos.
Nurun, ponderando na situação decidiu dar-lhe o brasão com a insígnia do clan, sinal de que agora também ele fazia parte do mesmo.
Honrado com o momento, OldMan deixou escapar uma lágrima. E abraçou cada um com a força que se pode imaginar num dwarf. Koresma, também ele entusiasmado com a situação correspondeu com o mesmo ênfase.
Foi um momento deveras especial para o clan.
Tudo corria bem.
Até que o clan teve de passar por Ruins of Despair.
Lá fora-lhes feita uma emboscada por uns quantos orcs, numa tentativa de roubarem os mantimentos do clan. Eram liderados por um orc grande e com uma carantonha de meter medo, chamado Rexx.
Não tinham muita habilidade com a espada, usavam antes a força bruta.
Koresma que estava ocupado a bater com as cabeças de dois orcs uma contra a outra, não reparou que Rexx tinha pegado num pedregulho e preparava-se para o atirar sob ele. OldMan, pôs-se à frente e usando toda a força no seu machado, rachou o pedregulho em pedaços, persistindo ainda um bastante grande que acabou por cair em cima dele, deixando-o inconsciente.
- “Meu badameco armado em parvo!!! Mas tu pensas que eu estou de serviço (uma chapada com o punho do seu machado no focinho do orc) para andar a curar ali o velhote (um murro no estômago) todos os dias é (um braço a menos) Ainda nem tinha recuperado por completo (um corte profundo na coxa). Nem sequer vi o velhote correr ainda!!! É pá!!! (com um ultimo gesto, a cabeça verde do orc rolou no chão) Isto lixa-me o juízo!!! Peçonhento do diabo!” – continuou a praguejar até alcançar OldMan, que já estava a ser ajudado por Sagramor e Nurun.
Desde aquele dia, Koresma passava com frequência a fazer alguns unguentos para ajudar OldMan a ultrapassar as crises de dores que às vezes ainda persistiam.
Mas nunca satisfeito com os resultados, passava a vida a experimentar ervas novas e pós mágicos.
Mas por vezes a sua caneca teimava em pingar o seu conteúdo, e desta vez tinha sido uma mistura explosiva para OldMan, que o pobre não tolerou lá muito bem…
- “Então Koresma??? Como é que está o velhote? Morre hoje?” – disse Nurun na brincadeira..
- “Não!!! Nada que uma bela ida ao mato não resolva, não é OldMan? OldMan??? Vês, ele até sabe o caminho e tudo. Olha para ele a correr!” – apontou Koresma.
- “Ai Koresma… Já devias saber que sou contra a fazeres as tuas artes medicinais quando tens a visão deturpada!!!” – disse Nurun.
- “Queres dizer, quando estou bêbado que nem um cacho?!” – emendou Koresma.
- “Infelizmente esse já é o teu estado normal. Mas agradecia que para próxima não preparasses os unguentos com um toquezito da tua bebida, pelo meio. Já vimos que isso tem uma consequência desastrosa.” – disse Nurun.
- “Apenas tentei aliviar as dores dele.” – disse cabisbaixo, Koresma.
- “Penso que lhe deves ter aliviado muito mais que isso, Koresma.” – disse Nurun, com um leve sorriso.
Foi então que a calma e serenidade do grupo foi cortada.
Quase que se arrastando, Fabyus trazia Su ao colo, ferida e semi-inconsciente.
- “Meu Deus!!!” – gritou Nurun que já os tinha visto a aparecerem na estrada. – “Fabyus! Su!”
Todos se levantaram e correram ao encontro dos companheiros.
Fabyus caiu de joelhos ao chão, não aguentando mais.
Sagramor, rapidamente aparou Su, evitando que ela tombasse ao chão.
- “Nurun…” – tentou pronunciar Fabyus – “Eles … a Su tentou … Mas eu …”
- “Ok, Sagramor pega na Su e leva-a para a minha tenda. Nurun, ajuda-me a levar o Fabyus. E vamos depressa. Estes dois não tão lá muito famosos.” – disse Koresma.
Chegando à tenda, com cuidado, Sagramor deitou Su.
Olhou para a expressão séria de Koresma. Ele não gostava quando via aquela expressão naquele dwarf. Significava sempre que algo de mal ia acontecer.
- “Mas o que é que aqueles bárbaros fizeram??? Nurun vai buscar água. Oh não!” – entretanto Su parecia quer voltar à consciência, mas isso não facilitava lá muitas as coisas. Ela iria ter dores insuportáveis devido à gravidade dos seus ferimentos. – “Jesus!!! Mexe esse cu e vem cá! Preciso de um milagre teu!” – gritou Koresma.
Jesus que se encontrava lá fora a tentar consertar a sua cota de malha, pouso-a e acorreu de imediato para a tenda, levando o seu livro consigo.
- “É bom que comeces a rezar ou lá o que costumas fazer! Este mulher precisa de algo que não a faça sentir as atrocidades por que passou. Espero que a tua fé hoje seja o suficiente para salva-la. Sagramor, faz pressão aqui!” – Sagramor, guiado por Koresma fez então pressão com as suas mãos num grande golpe que Su tinha logo abaixo do estômago. Este não parava de sangrar. – “Temos de parar esta hemorragia! Jesus!!! Começa a entoar o teu feitiço. Vamos precisar de toda a dormência que conseguires.” – gritou Koresma.
Jesus tinha a capacidade de encantar o corpo, deixa-lo dormente, e isso neste momento crucial era uma grande ajuda, pois Su estava em muito más condições.
Assim que entoou o seu feitiço os olhos de Su ficaram completamente vidrados, sem qualquer vida. O problema é que não poderia manter o feitiço por muito tempo, pois poderia causar o efeito completamente oposto e matar a alma de Su.
- “Koresma!!! O Fabyus não está a conseguir respirar bem!” – gritou Nurun a Koresma, quando voltava com a água.
- “Sagramor continua a fazer pressão! Vou ver o Fabyus.”
Koresma chegou-se ao pé de Fabyus, que arfava violentamente tentando apanhar golfadas de ar. Mas da sua boca, só saia sangue.
- “Noxx! Skrift!” – chamou Koresma.
Noxx e Skrift entraram na tenda. Ficaram brancos como cal, devido ao que encontraram diante dos seus olhos.
- “Vá putos! Não há tempo para desmaios! Noxx, parte a ponta de uma das tuas setas e dá-me o resto.” – disse Koresma para Noxx, que imediatamente passou à acção.
- “Ok. Skrift, quero que pegues neste punhal e vás até lá fora à fogueira e passes algumas vezes a lâmina pelo fogo. Não muitas, apenas as suficientes para retirar as impurezas que possa ter. Vai!” – Skrift precipitou-se pela tenda fora, de punhal na mão.
Nurun enrolou num bocado de um trapo. Ensopou-o na água e torcendo-o, posou-o dobrado na testa de Fabyus, na tentativa de o acalmar.
- “Calma Fabyus!!! Não tentes respirar tão depressa… Sei que custa, mas tens de te acalmar.” – disse Nurun, enquanto observava Koresma encostar o ouvido no peito de Fabyus.
Koresma fechou os olhos com força, como não acreditando no que ouvia.
Ele ouvira líquido no seu pulmão direito, e era isso que causava a sua dificuldade em respirar.
Por essa razão, pediu ao Noxx o cabo de uma das suas setas. Sabia que ele era oco, o que iria servir na perfeição, para puder inserir num pequeno orifício na garganta de maneira a facilitar a entrada de ar nos pulmões de Fabyus.
- “Skrift!!! Anda lá!!! Isso já está bom! Ou queres queimar o homem?”
Skrift entrou na tenda, entregando o punhal pelo punho, a Koresma.
- “Vou precisar de ajuda. Preciso que vocês os três imobilizem-no o melhor que puderem. Vou precisar de lhe fazer um pequeno corte a sangue frio na garganta para facilitar a entrada da seta e é bastante provável que ele se mexa bastante. E se ele se mexe, eu arrisco-me a corta-lhe o gasganete e nós não queremos isso, pois não? ” – perguntou Koresma.
Nurun, Noxx e Skrift, tentaram então imobilizar Fabyus, enquanto observavam Koresma a fazer uma pequena incisão na garganta.
Koresma tinha que ir com cuidado, pois arriscava-se a ferir a traqueia ou até mesmo as cordas vocais.
O facto de não estar a lidar com os seus utensílios normais, dificultava ainda mais a situação, mas tinha que saber adaptar os objectos que tinha naquele momento, à sua necessidade. E aquele punhal teria de servir. Decerto não era aquele o seu propósito, mas naquele momento tinha poucos recursos, o que o obrigava a inventar os seus próprios utensílios.
O grito de Fabyus foi alucinante, quando a lâmina lhe entrou na carne, cortando-o.
Todos os seus companheiros, que aguardavam lá fora, se encolheram. Eles sabiam o que uma guerra podia originar nos corpos frágeis deles, simples mortais. Todos eles já tinham passado por qualquer coisa semelhante. Os seus pensamentos, estavam naquele momento, com os seus dois companheiros de armas.
Koresma conseguiu abrir um pequeno espaço, onde inseriu o cabo da seta com extremo cuidado. Assim que o fez, Fabyus parou de se debater.
- “Isto vai aliviar-lhe um pouco a pressão nos pulmões e ajuda-lo a respirar. Fabyus tenta respirar devagar.” – disse Koresma esperançoso.
Por momentos, todos acreditaram que Fabyus estava realmente a respirar melhor. Mas isso apenas durou uns momentos, pois Fabyus começara a cuspir sangue.
- “Raios me partam!!! Ele já tem sangue nos pulmões!!! Oh não!!!” – disse Koresma completamente desiludido. - “Respira!!! Vá lá, filho da mãe!!! Respira…”
Mas Fabyus parecia não ter mais força para lutar.
- “Koresma!” – Sagramor gritou.
- “Nurun, mantém isto o mais imóvel possível. Temos de manter a esperança.”
Koresma apressou-se a ir ao seu encontro.
- “É demasiado sangue… Não pára!” – disse Sagramor, assustado com a gravidade daquele ferimento.
Jesus parou então o seu feitiço. Ajoelhou-se ao pé de Su e disse:
- “Koresma não vale a pena. Eu tentei mas ela já não me responde, acredito que a sua alma já está pronta para sair do seu corpo.”
- “Raios te partam!!! Então e milagres, não há” – resmungou Koresma.
Koresma passou a mão, gentilmente pelo o cabelo louro de Su, que agora estava peganhento pelo sangue que começava a secar. Olhou para o seu corpo, que quase já não tinha forças nem sequer para tremer. Sangue escorria pelas suas pernas. Provavelmente tinha sido também violada… Aaargghh. Sentiu uma vontade enorme de bater em alguém.
- “Oh miúda… Como é que te puderam fazer isto?” – disse Koresma.
Su, no meio da sua agonia, entreabriu os olhos e fixou-os em Jesus.
- “Anula… feitiço… Sagramor…” – balbuciou Su.
Os três entreolharam-se não percebendo o sentido daquelas palavras.
- “Su, querida, não conseguimos perceber o que disseste. Queres que anule o quê?” – perguntou Koresma, debruçando-se ligeiramente sobre ela.
Su, não respondeu mais.
Apenas olhou para Fabyus, que estava também a olhar para ela. E com um sorriso nos seus lábios, os que estavam presentes viram-nos respirar pela última vez, até que os seus olhos se fecharam para a eternidade.
Por momentos, Koresma ficou paralisado, a olhar para o corpo imóvel de Su, não acreditando que ela tinha parado de lutar, e perecera.
- “Não!!! Fabyus!!! Respira… Koresma!!! Faz alguma coisa!!!” – gritou Nurun, que abanava Fabyus, tentando faze-lo reagir.
Koresma acordando daquele primeiro impacto, levantou-se e afastou Nurun de Fabyus.
- “Não à nada a fazer. Lamento. Infelizmente a hora deles chegou. Pelo menos partiram juntos.” – disse Koresma completamente desapontado.
Nurun saiu pela tenda fora cheio de raiva. Para um elfo em que a calma era sempre uma constante sua, naquele momento se alguém não fosse falar com ele, provavelmente ele ainda matava alguém…
Sagramor, gentilmente passou uma mão pela testa de Su.
- “Adeus, Su. Lutaste com honra, serás sempre lembrada como tal.” – disse beijando a testa de Su.
Levantou-se e decidiu ir atrás de Nurun.
- “Vocês, vão até lá fora e contem o que se passou aos restantes. Comecem depois os preparativos para darmos descanso aos seus corpos.” – disse Koresma.
Noxx e Skrift saíram da tenda, parecendo zombies.
Sagramor correu para alcançar Nurun.
- “Nurun!”
Nurun não parou. Continuou ignorando o chamamento de Sagramor.
- “Nurun!”
Nurun, desembainhou a sua espada e num movimento rápido voltou-se para trás, encostando a ponta da lâmina à garganta de Sagramor, que instantaneamente parou.
- “Se me vens dizer alguma coisa verdadeiramente inteligente diz! Se não volta para trás!”
- “Nurun, a culpa não é tua!” – disse Sagramor, tentando puxar Nurun à razão.
- “Eu sou o líder! É suposto zelar pelo bem dos meus homens!!! E não deixar que eles se tornem presas fáceis para predadores sem escrúpulos!” – disse Nurun.
- “E tu fazes isso!” – disse Sagramor.
Nurun baixou a espada e virou as costas a Sagramor, decidido a continuar a sua caminhada. Mas parou e disse:
- “Sagramor, eles ainda era duas crianças, que queriam fazer de tudo para me provarem que estavam à nossa altura. Pobres almas. Não entendiam que eu conseguia apesar de tudo ver o seu potencial.” – silêncio… - “Para lhes demonstrar que entendia o seu valor, eu mandei-os patrulhar a parte Este do nosso acampamento. Pensei que não corressem perigo lá. Pois nós temos este sítio bastante seguro. Assim pensava eu.” – disse finalmente, Nurun.
- “Não podias adivinhar, Nurun.”
- “Perdemo-los, Sagramor. E tudo porque eu quis que eles se sentissem finalmente importantes. Eles eram ainda tão novos!”
Sagramor aproximou-se de Nurun.
- “O clan está a precisar do seu líder. Eu entendo a tua dor, mas temos de tentar perceber o que aconteceu e procurar que a justiça seja feita.” – disse Sagramor.
- “Tens razão. Mas antes de mais nada, vou eu próprio ao acampamento do StoryTeller reportar o que aconteceu. Não podemos cumprir com o que era suposto. Temos de tratar da cerimónia dos nossos companheiros que pereceram em função do clan. Sagramor, toma conta de tudo enquanto vou estar ausente.” – e dizendo isto, Nurun, montou no seu strider e desapareceu numa nuvem de pó.
Sagramor, voltou então à tenda, onde Koresma, com todo o cuidado, lavava o sangue do corpo de Su, com a ajuda de Jesus.
- “O Nurun foi ter com o StoryTeller.” – disse Sagramor.
- “Se o Nurun lá fosse enfiar dois pontapés no cú a esse gajo, eu até ajudava, mas como não vai acho uma total perda de tempo. Talvez se não tivéssemos aqui a brincar às casinhas com um bando de atrasados mentais, que afinal a única coisa que querem é terem ainda mais poder, eles ainda tivessem vivos. Mas enfim, ele é o líder e longe de mim contesta-lo. Ele deve saber o que faz.” – disse Koresma.
- “Independentemente de tudo, nós temos de avisar os Grievers que não podemos fazer o assalto hoje. De certeza que eles irão entender. Alem disso, ficaremos com mais tempo, para que a moral do clan seja reconstituída.” – disse Sagramor.
- “Ela era tão linda…” – disse passando com extremo cuidado, o pano molhado com que limpava Su, pelo seu rosto. – “Não merecia isto. Nunca tive filhos, penso eu… Mas considerava-a como minha filha.” – disse Koresma, suspirando.
- “Existe uma razão para tudo, Koresma. Lembra-te disso.” – disse Jesus.
- “Pois existe. A razão vai ser o meu machado, enterrado na cachimónia da escumalha que fez esta barbaridade a esta rapariga. E como eu costumo ser até bastante diplomático, vais ver que logo vou achar outra razão para estraçalhar a besta quadrada que ceifo também a vida ao Fabyus…” – disse com fervor, Koresma.
- “Não te deixes levar pela vingança, Koresma. Ela corrói uma pessoa por dentro até não haver mais nada.” – disse Jesus.
- “O que vale é que eu tenho muita carne para ela devastar! Pois aqui te juro, Jesus. Perante ti, perante Sagramor, e perante os dois corpos mortos dos nossos companheiros, que nem que seja a ultima coisa que eu farei, mas vingarei a morte deles. Não deixarei que as suas mortes tenham sido em vão!” – disse Koresma.
- “Não estás sozinho, velho amigo. Todos nós, não descansaremos enquanto não se fizer justiça.” – disse Sagramor
Lá fora, o tempo parecia partilhar da dor que o clan Lusitanos agora transportava.
O céu, no seu apogeu de escuridão, deixou as suas nuvens desfazerem-se em pequenas gotas de água, que depressa ensoparam o acampamento.
Trovões enchiam o céu de uma luz tremeluzente.
No pensamento de Sagramor, apenas figurava Nurun. Devia tê-lo acompanhado. Mas ele sabia que não o ia conseguir. Nurun precisava de estar sozinho, e provavelmente até não era boa ideia ele própria cruzar-se com StoryTeller.
Havia qualquer coisa estranha naquele mago, que deixava-o pouco à vontade. Sempre que tivera de estar diante da sua presença, sentira-se estranho, quase como fora do seu corpo. Nunca entendera muito bem aquilo, por isso evitava cruzar-se com ele.
P.s: Obrigada por toda a ajuda k me tens dado mor... Acredita, sem ti, esta historia nao estava aki hoje. Amo-te
O dia amanheceu com uma chuva miudinha. E o céu não podia estar mais negro, ameaçado uma tempestade enorme.
Para Orelhas, isso era um mau pressagio.
Olhou para as restantes tendas. Os seus companheiros ainda se encontravam a dormir.
Ele não conseguira estar muito tempo deitado. O sono parecia não querer nada com ele. Mas isso era algo a que os dark elfos já estavam habituados a lidar.
Por isso, chateado de olhar para nenhures, levantou-se e caminho até ao precipício, que rodeava o acampamento pelo lado norte.
Sentou-se mesmo à beira dele.
Lá em baixo, passava um riacho.
- “Seria uma queda algo aparatosa…” – disse Sagramor, que tinha chegado naquela altura.
Orelhas pressentiu-o, mas não deixou de se assustar.
- “Aonde tiveste?” – questionou Orelhas.
- “Assuntos pendentes.” – sorriu Sagramor.
- “E conseguiste resolve-los?” – disse Orelhas.
- “Acho que ainda os compliquei mais.” – disse Sagramor.
- “O amor. Nunca me foi dado a honra de conhecer esse lado.” – disse Orelhas.
Sagramor permaneceu calado. Ninguém sabia dos seus encontros com Senslyn.
Devia ter falhado em alguma coisa, pois Orelhas tinha de facto descoberto algo.
- “Não te preocupes, Sagramor. Não tenho problemas nenhuns com isso. Fico contente por ti. E está descansado. Se quisesse contar, já o tinha feito há muito tempo, por isso não é agora que o vou fazer.”
- “Não é uma questão de ser segredo. É apenas complicado.”
- “Então, o que é complicado, complicado deve permanecer.” – disse Orelhas sorrindo.
Sagramor sentou-se então ao seu lado. Nimue deitou-se a seu lado.
Orelhas olhou de relance para ela.
Parecia distante. Alias, Sagramor não parecia absorvido por ela, o que ultimamente se tinha tornado numa constante. Pareciam falar por pensamentos.
Orelhas quase que diria que estavam chateados.
Mas como a relação de um animal nunca é tão envolvente com o dono, ele simplesmente descartou essa hipótese. Não acreditava que a pantera de Sagramor conseguisse evoluir o poder de Mentalis. Era um poder deveras poderoso, e nem Sagramor o dominava. Ele próprio tentar uma vez dominar essa força, mas tudo o que conseguiu foi uns belos de uns arranhões como recordação, quando tentou aprender aquela técnica, usando como cobaia, um gatito igual à Nimue. Nunca mais voltou a tentar.
- “Ninguém mais está a pé?” – perguntou Sagramor.
- “Aparentemente ainda estão todos a dormir. Também ainda não amanheceu direito, e o ambiente ontem à noite também não deve ter propulsionado bons sonhos. Eu pelo menos falo por mim.”
Depois o silêncio toldou aqueles dois companheiros.
Por momentos, limitaram-se somente a observar o sol que aparecia agora a recortar o horizonte.
- “Ora já estão a pé” – Koresma também tinha despertado do seu sono embriagado e estava agora a espantar Nimue, para se sentar pesadamente ao lado de Sagramor. – “Vá bichano!!! Vai regar algumas plantas ou comer alguma erva!! Xo xo!”
Nimue simplesmente não ligando muito aos comentários de Koresma, limitou-se a levantar-se e a sentar-se mesmo à frente de Koresma, procedendo de seguida as umas lambidelas no seu pêlo brilhante.
Sagramor sorriu. Ninguém conseguia ser mais oportuno que Nimue. Olhou de soslaio para Koresma, que não dissera nada, mas podia ver um ponto de irritação no seu sobrolho franzido.
- “Que dia mais patético…!” – disse Orelhas.
- “Dá vontade de beber qualquer coisa…” – disse Koresma, esfregando a sua grande barriga..
- “Eu acho que acenta bem no cenário que está para acontecer.” – disse Sagramor, suspirando.
- “Já vi muitas guerras, Sagramor. Mas em todas, nunca vi um clan tão dividido em espírito como este. Todos achamos que a aliança seria benéfica, agora o que temos de fazer para a ter, é que me parece um pouco despropositado.” – disse Koresma.
- “StoryTeller é um gajo manhoso. Que dita as suas próprias regras e é só esse facto que me aborrece. Eles não têm nem um terço da união e dos princípios que o nosso clan se rege. E o facto de estarem tão interessados em terem-nos como aliados, isso é que é deveras suspeitoso.” – disse Sagramor.
- “De qualquer maneira, estamos a falar do nosso clan! Nós nunca viramos costas a nada, não é agora que o vamos fazer. E eu sei que tudo isto é deveras importante para o Nurun. Confio que ele tenha ponderado bem no assunto. Afinal ele é elfo, e os elfos têm o costume de repensar bem no assunto antes de se decidirem…” – disse Orelhas.
Os três desmancharam-se a rir, não reparando que muitos dos seus companheiros, já começavam a sair das tendas.
- “Oh Gordo!!! Anda cá!!!” – Noxx gritou.
- “Se for lá, parto-te a dentuça!!!” – gritou também Koresma. - “Estes putos ranhosos armados em heróis… Mas pensam que eu tenho cara de ama-seca ou quê” – disse praguejando. Mas lá se levantou, e caminhou até ao Noxx, que parecia agitar uma caneca de algum líquido, que deve ter soado bastante promissor a Koresma, pois depressa se apressou...
Orelhas levantou-se também, dizendo:
- “Bem, Sagramor. Vou-me retirar, para tentar encontrar alguma concentração. Enfim, arranjar algo para me entreter antes morra de tédio!!” – disse Orelhas.
Sagramor ficara então sozinho, apenas a sua pantera permanecia com ele. Felizmente que já tinha acabado com as lambidelas no pêlo.
No seu pensamento, apenas uma pessoa se encontrava.
E como sentia a sua falta já.
Sabia que tinha acabado de estar com ela, à somente algumas horas, mas daquela vez, o ambiente entre eles não tinha sido o melhor. Talvez tivesse nervoso por causa do que ia acontecer naquela manhã.
Não sabia. Somente sabia, que já sentia saudades dela.
- “Sagramor!” – ouviu gritar pelo seu nome.
- “Vamos lá, Nimue.” – disse levantando-se e indo ao encontro dos restantes companheiros.
Enquanto caminhava, apercebeu-se da agitação que rodeava aquele acampamento.
Muitos limpavam as armas, outros tentavam ensinar golpes maravilhas uns aos outros, mas uma coisa que predominava era o companheirismo.
Todos sabiam o que se avizinhava, mas por momentos, pareciam ter esquecido.
- “Ah!!! A boa pinga!!! Não há nada que levante o espírito a um velho dwarf a não ser a sua pinga!!!” – disse Koresma.
- “Sim, contigo acredito que nada mais funcione a não ser mesmo a pinga!!!” – disse Noxx, desmanchando-se em seguida às gargalhadas.
E num abrir e fechar de olhos, Koresma arremessou a sua caneca à cabeça de Noxx, acertando-lhe mesmo em cheio.
- “Au!!! Isso doeu!!!” – disse Noxx esfregando com a mão, a zona dorida.
- “Parece-me a mim que a minha pontaria ainda está deveras afinada!!! Agora mexe as pernas e vai-me buscar mais uma caneca!” – disse Koresma
- “Sagramor, talvez nem tudo corra mal.” – disse Orelhas, vendo Sagramor aproximar-se.
- “E porque é que haveria de acontecer algo de mal? Estamos todos aqui, a lutar pelo mesmo objectivo.”
OldMan apareceu meio cabisbaixo, com o sobrolho franzido. Devagar sentou-se junto a Skirft.
- “Então, companheiro. Como é que vai isso? Estás com dores ainda?” – perguntou-lhe Skrift a vê-lo tão em baixo.
OldMan anuiu com um ligeiro movimento de cabeça.
Ele era um dwarf já de idade avançada.
Era também mudo, a sua garganta tinha sido rasgada, num encontro menos amigo com uma Harpy, um monstro em que as suas garras podiam ser mortais.
OldMan quase que perdera a vida. Perdera tanto sangue, que quando Koresma e os restantes o encontraram, acreditaram que ele já tinha perecido. Mas Koresma, na sua teimosia, e com os seus mágicos unguentos, até um morto ressuscitava, por isso decidiu salva-lo.
Na verdade, OldMan teve vários dias agarrado à vida por um fio.
Koresma teve noites a fio a fazer receitas novas, com ervas que ninguém nunca tinha ouvido falar, inclusive NiceOne tinha sido incumbido uma vez a ir até Blazing Swamp, buscar uma porção da agua gasosa que os buracos nas rochas vulcânicas acumulavam com o calor da lava.
Todos achavam estranhas aquelas mistelas, mas ninguém se fazia rogado a tomar uma se tivesse mal. Koresma sabia o que fazia.
Quando OldMan voltou à vida, Koresma apercebeu-se que ele nunca mais iria voltar a falar. As suas cordas vocais tinham ficado desfeitas naquele ataque. Já era um milagre ele ter sobrevivido. Mas OldMan não pareceu preocupado, apenas ficou agradecido por ele o ter salvo.
Depois daquele incidente, ele ofereceu os seus serviços ao clan. Já estava velho e não se importava de seguir o clan para onde ele fosse. Eles tinham-lhe salvo a vida e ele por gratidão decidira seguir os seus passos.
Nurun, ponderando na situação decidiu dar-lhe o brasão com a insígnia do clan, sinal de que agora também ele fazia parte do mesmo.
Honrado com o momento, OldMan deixou escapar uma lágrima. E abraçou cada um com a força que se pode imaginar num dwarf. Koresma, também ele entusiasmado com a situação correspondeu com o mesmo ênfase.
Foi um momento deveras especial para o clan.
Tudo corria bem.
Até que o clan teve de passar por Ruins of Despair.
Lá fora-lhes feita uma emboscada por uns quantos orcs, numa tentativa de roubarem os mantimentos do clan. Eram liderados por um orc grande e com uma carantonha de meter medo, chamado Rexx.
Não tinham muita habilidade com a espada, usavam antes a força bruta.
Koresma que estava ocupado a bater com as cabeças de dois orcs uma contra a outra, não reparou que Rexx tinha pegado num pedregulho e preparava-se para o atirar sob ele. OldMan, pôs-se à frente e usando toda a força no seu machado, rachou o pedregulho em pedaços, persistindo ainda um bastante grande que acabou por cair em cima dele, deixando-o inconsciente.
- “Meu badameco armado em parvo!!! Mas tu pensas que eu estou de serviço (uma chapada com o punho do seu machado no focinho do orc) para andar a curar ali o velhote (um murro no estômago) todos os dias é (um braço a menos) Ainda nem tinha recuperado por completo (um corte profundo na coxa). Nem sequer vi o velhote correr ainda!!! É pá!!! (com um ultimo gesto, a cabeça verde do orc rolou no chão) Isto lixa-me o juízo!!! Peçonhento do diabo!” – continuou a praguejar até alcançar OldMan, que já estava a ser ajudado por Sagramor e Nurun.
Desde aquele dia, Koresma passava com frequência a fazer alguns unguentos para ajudar OldMan a ultrapassar as crises de dores que às vezes ainda persistiam.
Mas nunca satisfeito com os resultados, passava a vida a experimentar ervas novas e pós mágicos.
Mas por vezes a sua caneca teimava em pingar o seu conteúdo, e desta vez tinha sido uma mistura explosiva para OldMan, que o pobre não tolerou lá muito bem…
- “Então Koresma??? Como é que está o velhote? Morre hoje?” – disse Nurun na brincadeira..
- “Não!!! Nada que uma bela ida ao mato não resolva, não é OldMan? OldMan??? Vês, ele até sabe o caminho e tudo. Olha para ele a correr!” – apontou Koresma.
- “Ai Koresma… Já devias saber que sou contra a fazeres as tuas artes medicinais quando tens a visão deturpada!!!” – disse Nurun.
- “Queres dizer, quando estou bêbado que nem um cacho?!” – emendou Koresma.
- “Infelizmente esse já é o teu estado normal. Mas agradecia que para próxima não preparasses os unguentos com um toquezito da tua bebida, pelo meio. Já vimos que isso tem uma consequência desastrosa.” – disse Nurun.
- “Apenas tentei aliviar as dores dele.” – disse cabisbaixo, Koresma.
- “Penso que lhe deves ter aliviado muito mais que isso, Koresma.” – disse Nurun, com um leve sorriso.
Foi então que a calma e serenidade do grupo foi cortada.
Quase que se arrastando, Fabyus trazia Su ao colo, ferida e semi-inconsciente.
- “Meu Deus!!!” – gritou Nurun que já os tinha visto a aparecerem na estrada. – “Fabyus! Su!”
Todos se levantaram e correram ao encontro dos companheiros.
Fabyus caiu de joelhos ao chão, não aguentando mais.
Sagramor, rapidamente aparou Su, evitando que ela tombasse ao chão.
- “Nurun…” – tentou pronunciar Fabyus – “Eles … a Su tentou … Mas eu …”
- “Ok, Sagramor pega na Su e leva-a para a minha tenda. Nurun, ajuda-me a levar o Fabyus. E vamos depressa. Estes dois não tão lá muito famosos.” – disse Koresma.
Chegando à tenda, com cuidado, Sagramor deitou Su.
Olhou para a expressão séria de Koresma. Ele não gostava quando via aquela expressão naquele dwarf. Significava sempre que algo de mal ia acontecer.
- “Mas o que é que aqueles bárbaros fizeram??? Nurun vai buscar água. Oh não!” – entretanto Su parecia quer voltar à consciência, mas isso não facilitava lá muitas as coisas. Ela iria ter dores insuportáveis devido à gravidade dos seus ferimentos. – “Jesus!!! Mexe esse cu e vem cá! Preciso de um milagre teu!” – gritou Koresma.
Jesus que se encontrava lá fora a tentar consertar a sua cota de malha, pouso-a e acorreu de imediato para a tenda, levando o seu livro consigo.
- “É bom que comeces a rezar ou lá o que costumas fazer! Este mulher precisa de algo que não a faça sentir as atrocidades por que passou. Espero que a tua fé hoje seja o suficiente para salva-la. Sagramor, faz pressão aqui!” – Sagramor, guiado por Koresma fez então pressão com as suas mãos num grande golpe que Su tinha logo abaixo do estômago. Este não parava de sangrar. – “Temos de parar esta hemorragia! Jesus!!! Começa a entoar o teu feitiço. Vamos precisar de toda a dormência que conseguires.” – gritou Koresma.
Jesus tinha a capacidade de encantar o corpo, deixa-lo dormente, e isso neste momento crucial era uma grande ajuda, pois Su estava em muito más condições.
Assim que entoou o seu feitiço os olhos de Su ficaram completamente vidrados, sem qualquer vida. O problema é que não poderia manter o feitiço por muito tempo, pois poderia causar o efeito completamente oposto e matar a alma de Su.
- “Koresma!!! O Fabyus não está a conseguir respirar bem!” – gritou Nurun a Koresma, quando voltava com a água.
- “Sagramor continua a fazer pressão! Vou ver o Fabyus.”
Koresma chegou-se ao pé de Fabyus, que arfava violentamente tentando apanhar golfadas de ar. Mas da sua boca, só saia sangue.
- “Noxx! Skrift!” – chamou Koresma.
Noxx e Skrift entraram na tenda. Ficaram brancos como cal, devido ao que encontraram diante dos seus olhos.
- “Vá putos! Não há tempo para desmaios! Noxx, parte a ponta de uma das tuas setas e dá-me o resto.” – disse Koresma para Noxx, que imediatamente passou à acção.
- “Ok. Skrift, quero que pegues neste punhal e vás até lá fora à fogueira e passes algumas vezes a lâmina pelo fogo. Não muitas, apenas as suficientes para retirar as impurezas que possa ter. Vai!” – Skrift precipitou-se pela tenda fora, de punhal na mão.
Nurun enrolou num bocado de um trapo. Ensopou-o na água e torcendo-o, posou-o dobrado na testa de Fabyus, na tentativa de o acalmar.
- “Calma Fabyus!!! Não tentes respirar tão depressa… Sei que custa, mas tens de te acalmar.” – disse Nurun, enquanto observava Koresma encostar o ouvido no peito de Fabyus.
Koresma fechou os olhos com força, como não acreditando no que ouvia.
Ele ouvira líquido no seu pulmão direito, e era isso que causava a sua dificuldade em respirar.
Por essa razão, pediu ao Noxx o cabo de uma das suas setas. Sabia que ele era oco, o que iria servir na perfeição, para puder inserir num pequeno orifício na garganta de maneira a facilitar a entrada de ar nos pulmões de Fabyus.
- “Skrift!!! Anda lá!!! Isso já está bom! Ou queres queimar o homem?”
Skrift entrou na tenda, entregando o punhal pelo punho, a Koresma.
- “Vou precisar de ajuda. Preciso que vocês os três imobilizem-no o melhor que puderem. Vou precisar de lhe fazer um pequeno corte a sangue frio na garganta para facilitar a entrada da seta e é bastante provável que ele se mexa bastante. E se ele se mexe, eu arrisco-me a corta-lhe o gasganete e nós não queremos isso, pois não? ” – perguntou Koresma.
Nurun, Noxx e Skrift, tentaram então imobilizar Fabyus, enquanto observavam Koresma a fazer uma pequena incisão na garganta.
Koresma tinha que ir com cuidado, pois arriscava-se a ferir a traqueia ou até mesmo as cordas vocais.
O facto de não estar a lidar com os seus utensílios normais, dificultava ainda mais a situação, mas tinha que saber adaptar os objectos que tinha naquele momento, à sua necessidade. E aquele punhal teria de servir. Decerto não era aquele o seu propósito, mas naquele momento tinha poucos recursos, o que o obrigava a inventar os seus próprios utensílios.
O grito de Fabyus foi alucinante, quando a lâmina lhe entrou na carne, cortando-o.
Todos os seus companheiros, que aguardavam lá fora, se encolheram. Eles sabiam o que uma guerra podia originar nos corpos frágeis deles, simples mortais. Todos eles já tinham passado por qualquer coisa semelhante. Os seus pensamentos, estavam naquele momento, com os seus dois companheiros de armas.
Koresma conseguiu abrir um pequeno espaço, onde inseriu o cabo da seta com extremo cuidado. Assim que o fez, Fabyus parou de se debater.
- “Isto vai aliviar-lhe um pouco a pressão nos pulmões e ajuda-lo a respirar. Fabyus tenta respirar devagar.” – disse Koresma esperançoso.
Por momentos, todos acreditaram que Fabyus estava realmente a respirar melhor. Mas isso apenas durou uns momentos, pois Fabyus começara a cuspir sangue.
- “Raios me partam!!! Ele já tem sangue nos pulmões!!! Oh não!!!” – disse Koresma completamente desiludido. - “Respira!!! Vá lá, filho da mãe!!! Respira…”
Mas Fabyus parecia não ter mais força para lutar.
- “Koresma!” – Sagramor gritou.
- “Nurun, mantém isto o mais imóvel possível. Temos de manter a esperança.”
Koresma apressou-se a ir ao seu encontro.
- “É demasiado sangue… Não pára!” – disse Sagramor, assustado com a gravidade daquele ferimento.
Jesus parou então o seu feitiço. Ajoelhou-se ao pé de Su e disse:
- “Koresma não vale a pena. Eu tentei mas ela já não me responde, acredito que a sua alma já está pronta para sair do seu corpo.”
- “Raios te partam!!! Então e milagres, não há” – resmungou Koresma.
Koresma passou a mão, gentilmente pelo o cabelo louro de Su, que agora estava peganhento pelo sangue que começava a secar. Olhou para o seu corpo, que quase já não tinha forças nem sequer para tremer. Sangue escorria pelas suas pernas. Provavelmente tinha sido também violada… Aaargghh. Sentiu uma vontade enorme de bater em alguém.
- “Oh miúda… Como é que te puderam fazer isto?” – disse Koresma.
Su, no meio da sua agonia, entreabriu os olhos e fixou-os em Jesus.
- “Anula… feitiço… Sagramor…” – balbuciou Su.
Os três entreolharam-se não percebendo o sentido daquelas palavras.
- “Su, querida, não conseguimos perceber o que disseste. Queres que anule o quê?” – perguntou Koresma, debruçando-se ligeiramente sobre ela.
Su, não respondeu mais.
Apenas olhou para Fabyus, que estava também a olhar para ela. E com um sorriso nos seus lábios, os que estavam presentes viram-nos respirar pela última vez, até que os seus olhos se fecharam para a eternidade.
Por momentos, Koresma ficou paralisado, a olhar para o corpo imóvel de Su, não acreditando que ela tinha parado de lutar, e perecera.
- “Não!!! Fabyus!!! Respira… Koresma!!! Faz alguma coisa!!!” – gritou Nurun, que abanava Fabyus, tentando faze-lo reagir.
Koresma acordando daquele primeiro impacto, levantou-se e afastou Nurun de Fabyus.
- “Não à nada a fazer. Lamento. Infelizmente a hora deles chegou. Pelo menos partiram juntos.” – disse Koresma completamente desapontado.
Nurun saiu pela tenda fora cheio de raiva. Para um elfo em que a calma era sempre uma constante sua, naquele momento se alguém não fosse falar com ele, provavelmente ele ainda matava alguém…
Sagramor, gentilmente passou uma mão pela testa de Su.
- “Adeus, Su. Lutaste com honra, serás sempre lembrada como tal.” – disse beijando a testa de Su.
Levantou-se e decidiu ir atrás de Nurun.
- “Vocês, vão até lá fora e contem o que se passou aos restantes. Comecem depois os preparativos para darmos descanso aos seus corpos.” – disse Koresma.
Noxx e Skrift saíram da tenda, parecendo zombies.
Sagramor correu para alcançar Nurun.
- “Nurun!”
Nurun não parou. Continuou ignorando o chamamento de Sagramor.
- “Nurun!”
Nurun, desembainhou a sua espada e num movimento rápido voltou-se para trás, encostando a ponta da lâmina à garganta de Sagramor, que instantaneamente parou.
- “Se me vens dizer alguma coisa verdadeiramente inteligente diz! Se não volta para trás!”
- “Nurun, a culpa não é tua!” – disse Sagramor, tentando puxar Nurun à razão.
- “Eu sou o líder! É suposto zelar pelo bem dos meus homens!!! E não deixar que eles se tornem presas fáceis para predadores sem escrúpulos!” – disse Nurun.
- “E tu fazes isso!” – disse Sagramor.
Nurun baixou a espada e virou as costas a Sagramor, decidido a continuar a sua caminhada. Mas parou e disse:
- “Sagramor, eles ainda era duas crianças, que queriam fazer de tudo para me provarem que estavam à nossa altura. Pobres almas. Não entendiam que eu conseguia apesar de tudo ver o seu potencial.” – silêncio… - “Para lhes demonstrar que entendia o seu valor, eu mandei-os patrulhar a parte Este do nosso acampamento. Pensei que não corressem perigo lá. Pois nós temos este sítio bastante seguro. Assim pensava eu.” – disse finalmente, Nurun.
- “Não podias adivinhar, Nurun.”
- “Perdemo-los, Sagramor. E tudo porque eu quis que eles se sentissem finalmente importantes. Eles eram ainda tão novos!”
Sagramor aproximou-se de Nurun.
- “O clan está a precisar do seu líder. Eu entendo a tua dor, mas temos de tentar perceber o que aconteceu e procurar que a justiça seja feita.” – disse Sagramor.
- “Tens razão. Mas antes de mais nada, vou eu próprio ao acampamento do StoryTeller reportar o que aconteceu. Não podemos cumprir com o que era suposto. Temos de tratar da cerimónia dos nossos companheiros que pereceram em função do clan. Sagramor, toma conta de tudo enquanto vou estar ausente.” – e dizendo isto, Nurun, montou no seu strider e desapareceu numa nuvem de pó.
Sagramor, voltou então à tenda, onde Koresma, com todo o cuidado, lavava o sangue do corpo de Su, com a ajuda de Jesus.
- “O Nurun foi ter com o StoryTeller.” – disse Sagramor.
- “Se o Nurun lá fosse enfiar dois pontapés no cú a esse gajo, eu até ajudava, mas como não vai acho uma total perda de tempo. Talvez se não tivéssemos aqui a brincar às casinhas com um bando de atrasados mentais, que afinal a única coisa que querem é terem ainda mais poder, eles ainda tivessem vivos. Mas enfim, ele é o líder e longe de mim contesta-lo. Ele deve saber o que faz.” – disse Koresma.
- “Independentemente de tudo, nós temos de avisar os Grievers que não podemos fazer o assalto hoje. De certeza que eles irão entender. Alem disso, ficaremos com mais tempo, para que a moral do clan seja reconstituída.” – disse Sagramor.
- “Ela era tão linda…” – disse passando com extremo cuidado, o pano molhado com que limpava Su, pelo seu rosto. – “Não merecia isto. Nunca tive filhos, penso eu… Mas considerava-a como minha filha.” – disse Koresma, suspirando.
- “Existe uma razão para tudo, Koresma. Lembra-te disso.” – disse Jesus.
- “Pois existe. A razão vai ser o meu machado, enterrado na cachimónia da escumalha que fez esta barbaridade a esta rapariga. E como eu costumo ser até bastante diplomático, vais ver que logo vou achar outra razão para estraçalhar a besta quadrada que ceifo também a vida ao Fabyus…” – disse com fervor, Koresma.
- “Não te deixes levar pela vingança, Koresma. Ela corrói uma pessoa por dentro até não haver mais nada.” – disse Jesus.
- “O que vale é que eu tenho muita carne para ela devastar! Pois aqui te juro, Jesus. Perante ti, perante Sagramor, e perante os dois corpos mortos dos nossos companheiros, que nem que seja a ultima coisa que eu farei, mas vingarei a morte deles. Não deixarei que as suas mortes tenham sido em vão!” – disse Koresma.
- “Não estás sozinho, velho amigo. Todos nós, não descansaremos enquanto não se fizer justiça.” – disse Sagramor
Lá fora, o tempo parecia partilhar da dor que o clan Lusitanos agora transportava.
O céu, no seu apogeu de escuridão, deixou as suas nuvens desfazerem-se em pequenas gotas de água, que depressa ensoparam o acampamento.
Trovões enchiam o céu de uma luz tremeluzente.
No pensamento de Sagramor, apenas figurava Nurun. Devia tê-lo acompanhado. Mas ele sabia que não o ia conseguir. Nurun precisava de estar sozinho, e provavelmente até não era boa ideia ele própria cruzar-se com StoryTeller.
Havia qualquer coisa estranha naquele mago, que deixava-o pouco à vontade. Sempre que tivera de estar diante da sua presença, sentira-se estranho, quase como fora do seu corpo. Nunca entendera muito bem aquilo, por isso evitava cruzar-se com ele.
P.s: Obrigada por toda a ajuda k me tens dado mor... Acredita, sem ti, esta historia nao estava aki hoje. Amo-te